sábado, 3 de março de 2012

Adoração como seviço

Vivemos em um tempo dentros das igrejas na qual a maior preocupação da liderança é a adoração. É fato que adoração não é somente uma atitude musical. Isso já é mais que óbvio. Falado tantas vezes, que torna-se desnecessário lembrar.

O grande problema é qual o objeto real da adoração, dentro da própria igreja. Líderes carismáticos vociferam um Deus que está aí para nos dar aquilo que necessitamos, se soubermos "comprar" ao preço certo esta "benção". O preço? Se eu for santo o suficiente Deus me dará.

Em uma curta frase percebemos no mínimo duas coisas: 1) a preocupação com o MEU interesse/ meu próprio bem (Deus me dará) ; 2) o legalismo onde eu preciso fazer algo para que Deus me dê algo (seu for santo... Deus me dará).

Sobre o segundo, que não é a nossa preocupação neste texto, devemos lembrar que a Graça é estabelecida não pelo que somos, mas por quem Deus é. Ele nos abençoa porque seu caráter é abençoador. Simples, fácil e COMPLEXO. Nesse contexto o adoramos não pelo que Ele fará, mas por aquilo que Ele já fez na cruz e na eternidade.

Focalizando no primeiro, percebemos o foco no meu desejo, no que eu quero. Podemos usar a música como termômetro da nossa linha de pensamento. Afinal qual é o "Centro" das nossas músicas dentro da igreja, senão o meu DESEJO, aquilo que eu preciso, de forma egoísta. No meu ato de adoração, cabe o EU, raramente o NÓS.

A palavra hebraica utilizada comumente no Antigo Testamento para adoração é bhôda, traduzida muitas vezes também por "Servir". Servir o outro era parte integrante da Adoração Judaica. A palavra bhôda muitas vezes era substituída por hishtayah onde surge a ideia de o servo (aquele que serve) deve prostar-se ao adorado. Esse sentido também é perceptível no grego, onde a palavra latreia é flexionada por proskyneos. Infelizmente ficamos com as flexões das palavras originárias, nos prostramos, mas esquecemos da palavra original, não servimos.

Este conceito de Servir (no grego também diakonos) deveria ser resgatado dentro do nosso conceito de adoração. Não há como adorarmos, esquecendo de servir. Sem o serviço, nosso ato de adoração é incompleto.

O maior adorador logo, não é o cantor no palco, mas a senhorinha que lava o banheiro. Não é o pastor que estende as mãos, mas o adolescente que ora pelo irmãozinho doente.

Por fim, os versículos mais utilizados para tratar sobre adoração João 4:23-24, dentro do conceito de servir, dá mais intensidade ao ato de adoração. A adoração ganha um sentido menos individual e mais comunitária. Eu adoro a Deus servindo* o outro, Eu amo a Deus amando o outro.

Logo, se minha adoração é focada nos meus anseios, Ele tende a ser muito mais uma adoração aos meus desejos, do que de fato a Deus.



*servindo foi utilizado para não gerar o conflito de palavras onde eu adoro uma outra pessoa. Esse tema geraria mais um longo texto, que não compete ao momento.