quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Adolescência, Igreja e Sexualidade

Era o distante ano de 2004. Eu trabalhava em uma escola pública cuidando do ensino de informática para adolescentes de 11 a 14 anos. Por causa da pouca idade (16 anos) muitos professores obviamente não confiavam em mim. Eu era um projeto pioneiro naquela escola, onde um quase nativo digital ensinaria aos nativos digitais como melhor usar os recursos informáticos. Por não confiarem, acabava tendo muito tempo livre para ficar no corredor conversando com o inspetor e alguns alunos que sempre estavam por lá.

Em certo dia de setembro chega um aluno com um celular "moderno" (para a época) com a foto de uma das meninas de sua sala, enviada pela mesma, durante uma daquelas aulas. Na foto, a garota mostrava seus atributos físicos tirados por baixo da camiseta, revelando as benesses da puberdade feminina. Eu lembro o rosto do inspetor, perguntando se aquilo tudo era dela mesmo e se tinha como salvar para que ele visse mais tarde.
Anos após, estava lidando com a questão de sexting, pedofilia e adolescência junto a empresas privadas e em apoio a ONGs. Tive ainda algumas experiências tendo o contato com adolescentes de outras igrejas da minha denominação. Mas não falo como perito (pois não sou), e sim como alguém que viu, cuidou e tratou disso de perto.

A adolescência é uma fase complexa (todos já sabem), mas é ainda mais complexa com a forte erotização ocorrida nos últimos 20 anos e a facilidade de distribuição de material nesse sentido ocorrido nos últimos 7 anos. Existe no adolescente o desejo de revelar ao mundo o que ele tem de melhor. É uma necessidade do adolescente mostrar que ele não é mais criança, que ele sabe resolver os problemas do mundo, que ele está pronto para ser notado. Essa é fase que ele faz tudo para mostrar que acabou a infância.

Ao mesmo tempo, é a fase que ele não se compreende, pois aquele órgão pequeno que soltava urina, agora está ficando maior, com pelos e de repente o trai a noite. A menina vê que seu busto está crescendo, mas não o suficiente para ser maior do que a da amiga (curiosamente a amiga acha que o seu cresceu demais e queria que fosse menor).  É quando aquela menina que era o patinho feio com cara de nerd magrela, está muito "gostosa". O moleque que era o "amiguinho", o "educado" e "simpático" não para de dar em cima e não pára de alisar as meninas. É a fase das mudanças!  

E por não saberem lidar com as mudanças, não aceitam que ocorram consigo mesmo, por isso sua auto estima torna-se extremamente baixa. O que eles veem no espelho nunca será aquilo que nós, adultos vemos (no meu caso jovem adulto). Para eles tudo está incompleto em si mesmo e no mundo. Tudo muda, mas não na velocidade que querem. Tudo causa tristeza, por isso necessitam de algo que lhes dê fôlego de alegria. É neste buraco que falta família, amigos e igreja e sobram remendos, vícios e traumas.

Há uma estimativa que por dia sejam colocados na internet cerca de dez vídeos de adolescentes entre 11-14 anos, com conteúdo impróprio. Muitos desses vídeos são colocados pelos próprios adolescentes, buscando reconhecimento e suprimento na sua imagem pessoal.
Um grande número de meninas perde sua virgindade aos 13 anos de idade e os meninos aos 15 anos. Há uma tendência de que esse número nos próximos cinco anos caia para 11 e 13 respectivamente. A Igreja Cristã, ainda está alheia a isso. Nós ainda não temos o preparo para conseguir abordar o assunto sexualidade na pré-adolescência (8-11 anos). Estamos engatinhando com uma agradável consistência na pré-juventude (15 anos para cima).

O problema não é proibir o ato sexual, a masturbação, o sexting e a pornografia. O problema é como substituir essas "necessidades" criadas nos nossos adolescentes. É pura ingenuidade achar que iremos vencer essas questões com nossos paradigmas. Teremos adolescentes mascarados. A integridade aparente esconderá aquilo que estará no coração. Bons filhos também desobedecem os pais.

Nos últimos três anos, inclusive, me assustei com o número de jovens e adolescentes que confessaram problemas na questão sexual. Alguns deles pediram que eu fizesse um acompanhamento mais próximo para ajudar a corrigir, porém a maior parte confessou que não está mais se preocupando. O motivo de não se preocuparem é possivelmente a supervalorização do pecado do "sexo antes do casamento". Uma vez cometido este "pecado", tá liberado. Há um grosso modo, rompeu o hímen, rompeu com o pecado
(não é a minha preocupação debater nesse momento se é ou não é pecado, fazer sexo antes do casamento).

E o que fazer diante disso? Vamos prender os adolescentes em casa para que não façam sexo com ninguém? Vamos tirar computador, televisão e celular para que não haja exposição? Vamos obrigar os filhos a irem para todo lugar com um guarda-costas familiar (pai, mãe ou irmão mais novo)?
Nada disso e tudo isso. Estabelecer um diálogo sincero auxilia na dosagem dessas coisas. Dizer NÃO também é um aprendizado para ele. Ao mesmo tempo que dizer SIM mostra a confiança que você deposita nele. O meio termo é sempre agradável. O excesso é traumático e não gera resultados. Tudo depende do adolescente, e é saudável que ele saiba que há pendências que o fazem perder a confiança.

Vamos fazer diversos seminários de sexualidade e vamos obrigar que todos sejam acompanhados por adultos? Vamos contratar psicólogos e orientadores para acompanhar a educação deles na igreja?
NÃO! NÃO! NÃO! Eles não precisam de mais adultos "enchendo" a cabeça deles. Os adultos "não entendem" o que eles passam na escola. O que um adulto fala é conflitante com aquilo que eles vivem diariamente. Obviamente essa é uma via que pode melhor aparelha-los para enfrentar, mas hoje a maior necessidade que eles sentem é de pessoas que os acompanhe e converse não para ensiná-los e corrigi-los. Eles precisam de modelos. E sabe qual é o melhor modelo? Os jovens.

A chave para o coração dos nossos adolescentes, são os jovens líderes maduros que nós produzimos. Eu sei de coisas dos meus adolescentes que nenhum pai sabe ou saberá tão cedo. Sei de coisas que nem mesmo os amigos adolescentes da igreja sabem. Sabe porque? Porque eu entro como irmão. Eu não estou disposto a dar bronca ou dar lição de moral, mas eu cuido através do meu exemplo. Se eu dou um conselho, dou também a liberdade para que pensem e respondam por suas escolhas (salvo casos que necessitem do contrário).

Pais, adultos e orientadores são essenciais na educação e formação dos adolescentes, mas é a juventude que faz com que os adolescentes caminhem nessa retidão. O adolescente quer ser visto como jovem, por isso é que são os jovens que devem ser a "bola da vez" em nossas igrejas. Infelizmente o tráfico e o mercado da pedofilia entenderam isso antes. Mas esse é um chamado para confiar e investir em jovens líderes para resgatar os adolescentes. O que combate a pedofilia não é somente uma boa orientação educacional, mas o cuidado e o modelo daqueles que são iguais.

Quer adolescentes saudáveis, tenha jovens líderes saudáveis.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Falhamos com o Chorão


Não errei no título não. Sim, falhamos com o Chorão.

Agora sobram palavras positivas e negativas sobre ele. Um bêbado, drogado, boca suja ou permissivo. Um referencial, alguém de mente aberta, um apoio a juventude e sua liberdade ou um grande compositor da nova era.

Palavras e mais palavras não poderão definir uma pessoa. Opiniões são opiniões, e somente isso. Não são vazias e não possuem conteúdo. São sempre muito pouco diante da complexidade de um ser humano.

Minha preocupação não é somente com o Chorão, mas com os muitos “chorões” que ainda temos. Agora os jovens “crentes” reclamam porque não foram falar de Cristo para ele. Mas o que dizer sobre os “chorões” que estão em nossos bairros. Estes a qual chamamos de vagabundos, maconheiros e bandidos. Estes que a gente passa longe por medo.

Nós falhamos com o Chorão porque nós falamos de Cristo, mas não vivemos Cristo. A nossa ação basta no simples fato de falar. Esquecemos que quando o ser humano não sabia o que era salvação, redenção e expiação, o próprio Deus, por meio de Jesus, tornou-se gente para falar nossa língua e relacionar-se. Para nos salvar, Deus falou conosco de maneira que entendêssemos.

Achamos que missão é somente a proclamação da palavra, mas esquecemos que nisso está incluso a ação da palavra proclamada. Nós achamos que porque temos um monte de programas televisivos, estamos falando do evangelho. A maior parte dos telespectadores da programação evangélica, são os próprios evangélicos. 

Cristo só poderá ser encontrado, quando nós passarmos a mostrar além da proclamação, a nossa ação. Quando pregar o evangelho for ir aos perdidos e não esperar que eles venham a nós. Quando ao invés de impormos Cristo, nos tornarmos braço de apoio. Não simplesmente tatuando e andando de skate, mas mesmo em meio a culturas diferentes, conversando com o intuito de excluir e não com o interesse de destinar o diferente ao Inferno.

Que Deus nos perdoe por que falhamos com os “Chorões”!